sábado, 27 de dezembro de 2008

27 de Dezembro

Acordei com o barulho de um papel debaixo da porta. Olhei para o lado. Um papel amarelo enrolado visitava-me, levantei-me. “Estou no café, vem ter comigo logo que acordes.” Abri a porta, mas já descia as escadas ao fundo. Tomei banho, fui ter com ela. Desci, desta vez não estava só, outras pessoas tilintavam cafés ao balcão. Ela estava sentada, exactamente no mesmo local de ontem. Tinha um vestido azul e, desta vez o cabelo solto, e, também desta vez, impressionava.
Olá Sara, desculpa se me atrasei
Não te atrasaste… esquecemos de combinar a hora. Seja como for, é muito cedo, deve ser uma daquelas horas que combinaríamos” Sorriu.
Pedi o meu pequeno-almoço.
Então Sara, e onde vamos hoje, em frente, certo?” perguntei com ironia.
Sim, em frente…”
Enquanto tomava o pequeno-almoço pouco principesco ela começou a ler um jornal. Olhei para ela, que se distanciava agora em notícias. Cada vez ela me intrigava mais, e era precisamente quando se distraía com algo insignificante, que mais me questionava quem seria a minha companheira de viagem. Comecei também a ler um outro jornal. Diferente, mas curiosamente, com as mesmas insignificantes notícias na capa. O mundo não havia mudado desde ontem. Bem, talvez um pouco.. “Sim, em frente..” pensei…
Avançamos para o carro, colocámos as nossas malas, e à medida que saíamos da cidade apercebiamo-nos que o local ainda era mais feio do que imaginávamos. Parecia uma cidade dormitório, com inúmeros camiões pelas várias ruas e pelas várias vidas que ali habitavam. Saímos do centro para uma periferia triste e industrializada.
Luís, e tu fazes?” – Perguntou-me ela enquanto acelerava o carro numa estrada agora novamente livre.
Bem, dou apoio a queimaduras solares ao domicílio.”
Como?” Espantou-se e olhou para mim.
Sim, quando as pessoas têm alguma queimadura solar, telefonam para uma linha de apoio e vou a casa delas vender creme para a queimadura
Esse é o emprego mais tonto que alguma vez ouvi” Riu-se. “Mas também trabalhas no Inverno?”
Sim, mas menos. No Inverno vendo essencialmente aos Islandeses e Lapões que nos visitam
É definitivamente o emprego mais tonto que ouvi.”
Estou de acordo” Disse. “E tu, que fazes?”
Faço arcos para violoncelos
Queria dizer também que era um trabalho parvo.. mas na verdade, achei-o fantástico. “ E fazes muitos?”
Cerca de 5 por mês. Faço uns de um modelo octagonal e vendo para músicos das orquestras de Tallinin, Hamburgo, Estrasburgo e Cracóvia.”
Ainda a querer-me vingar da consideração pelo meu emprego perguntei: “E só fazes 5 por mês”
Sim”… Não me consegui vingar com a resposta seca a alguém que não percebia nada do assunto.
Mas e o que fazem os teus arcos serem apreciados por essas orquestras?”
Prometes que nunca que te vais dedicar ao negócio dos arcos de violino?” perguntou a sorrir.
Prometo..”
Faço a curvatura dos arcos um modo passivo e num ambiente húmido durante exactamente 12 dias, coloco-os em ambiente seco durante 3 dias compenso a curvatura final num sobre lume forte no final.”
Não percebi nada, mas ainda assim perguntei “E como descobriste essa técnica
Por um mero acaso, num livro antigo que encontrei num arquivo de uma biblioteca
E têm feito sucesso os teus arcos?"
Cada vez mais” – Mais uma vez pareceu-me um trabalho fantástico…
E sabes.., essa é a razão porque tenho todos esses sacos e caixas
Como assim?”
Trago muitas ferramentas e madeira para fazer os tais arcos?” Disse, e sorriu para dentro.
Mas vais trabalhar durante esta viagem?”
Não… só quando chegarmos ao destino final

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Assim de repente: um conto online onde escrevem dois estranhos, que se encontram apenas num blog, na época mais deprimente do ano.