As pessoas olhavam-nos como se soubessem o que nos tinhamos feito e qual era o nosso plano de viagem... ou senao era so mesmo a minha habitual paranoia a dar-me conta de que tambem tinha vindo viajar comigo.
O Luis, por sua vez, devia achar-me a tipica mulher que traz a casa toda atras e claro que depois pareceu ficar espantado com o facto de eu dizer que das 6 malas que eu trazia na bagageira apenas precisava de uma para a noite que ia ficar naquele albergue caseiro mas que para mim tinha um ar demasiado industrial, antes preferia-o de madeira com uma lareira ao fundo e quem sabe umas meias la dependuradas a fingir que esperam pelo pai natal.
E, era assim que eu me queria sentir: uma foragida, unica personagem langorosa a preto e branco num filme natalicio, colorido, pleno de enfeites e de movimento.
Pronto, esta bem, o Luis, meu companheiro de viagem tambem foragido e a preto e branco, podia ser um fiel escudeiro, um conselheiro, o Sancho Panca e Dr. Watson neste meu filme.
Comeco a preocupar-me com o que o Luis pensa sobre mim; se ele acha que sou mesmo louca, e foi por isso que, enquanto jantavamos no albergue vazio onde a senhora proprietaria se ia queixando do sopro gelido da ma fortuna que a havia encerrado naquela pequena area da nao muito maior Vila Nova de Briteiros, que perguntei a minha amistosa companhia: "Diz-me uma coisa, quais e que eram as tuas expectativas em relacao a mim? Se e que as tinhas... bem, o que eu queria saber era o que e que pensas sobre mim... quero dizer, achas que sou meio louca, insconsciente ou assim algo do genero? Estas a vontade para me dizer. So estava aqui a pensar, com tudo isto, nao sei, nao quereras ir de volta para Lisboa?
O Luis interrompeu-me, antes que eu me esticasse ainda mais naquela verborreia indecisa: "Sara, e claro que nao. Ainda agora comecamos esta viagem que me esta a parecer muito interessante, por isso promete!
Nao pude senao sorrir, tambem grata por ele me ter calado com essas afirmacoes reconfortantes. Apercebi-me que era a primeira vez que tinha falado com ele num tom mais indeciso e confuso, bem ao contrario da mulher independente e determinada com quem ele tinha iniciado esta viagem.
Falamos durante horas ao jantar e a senhora teve que nos "expulsar" da sala sugerindo que continuassemos a conversa la em cima, que era onde ficavam os quartos, o que eu momentaneamente achei engracado dada a situacao, apesar de nao gostar da senhora nem um pouco pois ela lembrava-me demasiado uma velha provinciana, muito mesquinha, com que me cruzara noutra vida.
Nao seguimos o conselho ofensivo da senhora, pois ambos sabiamos que ja era bastante tarde e estavamos um tanto cansados da viagem. Nao dissemos mais nada senao "Boa noite" um ao outro, inconscientemente como quando nao se diz mais nada para nao estragar o momento.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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- Assim de repente: um conto online onde escrevem dois estranhos, que se encontram apenas num blog, na época mais deprimente do ano.
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